PAÍS CONTROLA 1.809 DOENTES COM PROBLEMAS RENAIS

 Centro de hemodiálise, Sol

Luanda – A Sociedade Angolana de Nefrologia (SAN) tem registados 1.809 doentes em hemodiálise, em todo o país, com o maior número concentrado em Luanda.

Os dados foram avançados pelo Presidente da Sociedade de Nefrologia, Matadi Daniel, em entrevista ao Jornal de Angola por ocasião do dia mundial do Rim, que celebra-se na segunda quinta-feira do mês de Março.

Dos 1.809 pacientes em diálise, 57,4 por cento são homens e 42,6 são mulheres, e a província de Luanda tem o maior número de doentes, por ter também um maior número de habitantes e onde estão concentrados mais especialistas.

Dos pacientes registados, cerca de 4,2 por cento de doentes em diálises são menores de 15 anos, muitos dos quais com má formação nefrológica ou inflamação dos filtros renais.

Em entrevista ao Jornal de Angola (JA), o especialista informou que muitas das crianças foram dando sinais como febres, inchaço nos olhos e nos pés, e dificuldades ao urinar, mas as mães achavam ser malária, simplesmente, e não atacavam as causas.

Por isso, apelou ao pais a estarem mais atentos quando registarem três episódios de infecção do trato urinário, em crianças, e de imediato procurarem um especialista em nefrologia para se excluir qualquer fenómeno de má formação nefrológica ou inflamação dos filtros renais.

Os demais pacientes estão na faixa etária dos 21 aos 50 anos de idade, o que corresponde a 60 por cento do número total de doentes.

Embora sem os dados actualizados de 2020, por falta de compilação de algumas informações, fez saber que, de 2018 a Dezembro de 2020, o registo é de cerca de 270 a 300 mortes por doença renal crónica, correspondendo a uma taxa de de 14,5 por cento dos doentes que faziam diálise.

O médico  considera como uma taxa elevada e que não foge do padrão europeu, fixado entre 11 e 12 por cento dos doentes.

A maior parte desses doentes morreram por doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial e ataques cardíacos, isto como primeira causa.

Já a segunda causa está relacionada às infecções dos acessos vasculares e intercorrentes, nomeadamente a malária, tuberculose e pneumonias. E, em terceiro lugar, os acidentes vasculares cerebrais.

Informou que pelo menos dez doentes renais foram acometidos pela Covid-19, sendo que dois acabaram por morrer. “Estes dados, não estão ainda finalizados por faltarem informações para serem compiladas. Temos três meses para fazer isso e só depois é que poderemos aferir, com maior segurança, qual foi a magnitude da Covid-19, como causa de mortes nestes doentes dialíticos”, reforçou.

Estado deve investir mais na prevenção

Defende que se o Estado investir mais na prevenção, conseguir-se-a evitar que os doentes do estádio 1, 2 e 3 evoluam para os estádios 4 ou 5 e passem o resto da vida a fazerem hemodiálise.

"É preciso saber quem são as pessoas hipertensas, diabéticas, quem são as crianças com inflamações nos filtros renais para se começar com o tratamento precocemente", reforçou.

Acredita que, os 1.809 doentes em diálise são a ponta do iceberg, porque por baixo disso está a maior parte dos doentes com falência renal crónica, que apesar de ainda não atingirem o estádio 5 correm o risco de evoluírem para estes níveis.

Segundo estudos, por cada um milhão de habitantes existem 100 pessoas que entraram em falência renal crónica.

Para Matadi Daniel, significa dizer que se Luanda tiver oito milhões de habitantes, 800 pessoas entrarão em diálise todos os anos. "Se formos hipertensos ou diabéticos e não tiverem um médico assistente, que os acompanhe de forma regular, poderão estar no estádio três e sentir-se aparentemente bem, por não terem quase sintomas nenhuns, e depois, quando menos esperarem acabarem por evoluir para o estádio cinco", apontou.

Apesar da hipertensão arterial ter 41,4 por cento de culpa, seguida das diabetes milites com 11,5 por cento, ainda assim, existem quase 34 por cento dos casos de falência renal que ainda não se sabe quais são as causas, pois  a maioria dos doentes chega nos hospitais em situação de emergência ou urgência nefrológica, já com necessidade de fazer a diálise.

Matadi Daniel avança que a subvenção devia ser 100 por cento para as pessoas pobres e 70 a 80 por cento para as pessoas de rendimento médio, por acreditar que 95 por cento das pessoas que estão em diálise são de baixos rendimentos, logo não têm condições para tratar da hipertensão ou das diabetes milites, e são estas as duas grandes causas da falência renal crónica.

"Tem de haver uma política de subvenção de medicamentos urgentes para as doenças que levam à falência renal crónica e aguda. Neste caso, inclui também a subvenção em 100 por cento da medicação para a malária, porque esta doença quando mal tratada causa a falência renal aguda", reforçou.

Em Angola, a hemodiálise começou a ser feita em 1996, no Hospital Militar Principal.

A Sociedade Angolana de Nefrologia tem inscritos quase 50 nefrologistas, número insuficiente, pelo que defende um plano estratégico de formação de quadros, não só na área de nefrologia, mas em todas as especialidades médicas.

Embora considere importante a extensão dos centros de tratamento da doença renal crónica, a nível das províncias, destaca a necessidade de se investir na prevenção, na subvenção de medicamentos e acima de tudo potenciar os hospitais centrais e regionais com serviços de nefrologia, porque são estes serviços que permitem que se formem mais especialistas e é nesta área onde são referenciados os doentes que, na periferia, se detectou alterações renais para depois serem indexados a consultas de nefrologia.

Estudos indicam que, todos os anos, em cada um milhão de habitantes pelo menos 100 pessoas entram em falência renal crónica.

Em Luanda, até ao mês de Dezembro último, o Centro de Hemodiálise Pluris África, localizado no Hospital Américo Boavida, contava com 342 doentes, o Hospital Maria Pia, com 144 pacientes, Hospital do Prenda, 72, a clínica Sagrada Esperança, 27, clínica Girassol, 63.

No interior do país, a província de Malanje tinha 64 doentes, Benguela, 137, mais os 114 registados no Lobito, e Huambo com 91 doentes, totalizando 1.055 pacientes  em centros de gestão privadas.

Já nos centros do Estado, até Dezembro, existia um na província do Bié, com 21 doentes, 17 doentes no Luena (Moxico), Hospital Pediátrico David Bernardino, com 21, clínica Multiperfil, 170, Hospital Militar, 89, Clínica do Exército, 184, Lubango (Huíla), com 85, e o Hospital Geral de Luanda tinha 237. Um total de 834 pacientes que fazem diálises nos centros públicos.

Gastos por doente

Para manter um doente em diálise permanente, o Estado gasta entre 35 a 40 mil dólares americanos por ano. Por isso considera que o transplante fica muito mais barato para o Estado.

Lei sobre o transplante de órgãos

Apesar de aprovada em Setembro de 2019, diz não ter mais informações sobre a sua implementação, mas considera que já se deviae mandar para um centro diferenciado alguns nefrologistas para fazerem estágios, durante um período de seis meses ou um ano na área de pré-transplante, transplante e seguimento pós-transplantados.

"Depois, devia-se mandar, também, para os centros diferenciados, médicos anatomopatologistas, para passarem a fazer biópsias nos rins transplantados, e os farmacêuticos para fazerem a gestão das drogas imunossupressoras.

O paciente transplantado tem de tomar a medicação regularmente e na dose certa, para que o rim se adapte ao novo organismo.

O objectivo desta data, criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2006, é consciencializar a população mundial para a importância do rim na saúde do homem e reduzir a ocorrência de problemas de saúde ligados a doença renais.

O tema do Dia Mundial do Rim em 2021 é “Vivendo bem com a doença renal”, e tem como objectivo consciencializar e orientar o paciente com doença renal crónica (DRC) quanto aos próprios sintomas, para que possa participar, de forma mais efectiva, na rotina da vida quotidiana.

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